CBF dobra aposta e leva caos para arbitragem brasileira – Análise
Em uma das semanas mais tensas da história da arbitragem no Brasil, com a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas direcionando seus holofotes aos árbitros, a CBF entra em cena parecendo dobrar a aposta e instituir o caos de vez. A escalação de Raphael Claus para apitar o clássico entre Flamengo e Botafogo no domingo, no Maracanã, coloca em risco não apenas a carreira do árbitro, que é do quadro da Federação Paulista. Mas também toda a arbitragem nacional. E isso é apenas um dos episódios que mostram o despreparo da entidade, dirigida por Ednaldo Rodrigues e que tem Wilson Luiz Seneme como responsável pelo setor de arbitragem.
A sucessão de erros da CBF não começou com a própria escalação de Raphael Claus. Vem de longe. Mas este fato se torna grave dentro de um contexto. O árbitro paulista foi personagem na primeira derrota do Botafogo em casa no Campeonato Brasileiro do ano passado, já no segundo turno e diante do próprio Flamengo. Um discutível impedimento no primeiro gol do Flamengo e uma falta no lance que originou o gol do triunfo de 2 a 1 dos flamenguistas revoltaram os botafoguenses. Na semana em que John Textor, dono da SAF do Botafogo e responsável por ligar o sinal de alerta nos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Romário (PL-RJ), prestou seu depoimento, a escalação poderia soar como uma provocação ao dirigente alvinegro e até mesmo a membros da CPI.
Raphael Claus sempre na escala?
A polêmica não ficou nisso. Ao saber que a CPI desejava ouvir Claus, era de bom tom tirar o árbitro do clássico, conforme pediu o Botafogo e a própria Associação Nacional de Árbitros (ANAF). Em um cenário com mulheres apitando jogos de graça e escalas mal explicadas, Jorge Kajuru subiu o tom e chegou a pedir a demissão de Seneme. Fato ignorado pela CBF.
– O presidente da CBF tem que demitir o chefe da arbitragem, o tal do Seneme. Primeiro, porque ele é incompetente. Segundo, não tem cabimento mulheres apitarem os jogos de futebol feminino sem receber. Com o dinheiro que a CBF tem? Não tem cabimento – disse Kajuru.
Em um delírio de consciência, o site da CBF chegou a tirar Raphael Claus da escala alguns minutos na quarta-feira. Mas logo ele voltou a constar como principal nome da arbitragem do clássico de domingo. E para piorar ainda mais a situação, Anderson Daronco, talvez o mais respeitado árbitro brasileiro da atualidade, aparece como quarto árbitro em uma decisão que não dá para entender.
Qual o risco para Raphael Claus?
A CBF ignorou os pedidos para a retirada de Raphael Claus da escala. Mas o risco ao árbitro é evidente. Qualquer equívoco cometido por ele em campo será motivo de desconfiança por muitos. Um cartão vermelho mal aplicado, uma discussão com um jogador, um pênalti ignorado ou até mesmo um gol ilegal se tornarão combustíveis para jogar na lata do lixo a carreira de um árbitro que parece contar com muito prestígio na CBF.
A falta de sensibilidade da CBF e a covardia com Raphael Claus levaram a ANAF a pedir que paulista fosse retirado do clássico, “medida visa salvaguardar a categoria que segue acuada, com medo e exposta na mídia após uma sucessão de acusações, ainda sem provas que estimulam a paralisação imediata do Campeonato Brasileiro“. A CBF fechou os ouvidos.
A entidade também parece ter problemas para explicar os motivos que levaram a repetição da dupla que conta com Claus e a árbitra de vídeo Daiane Caroline Muniz dos Santos em 11 das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro do ano passado. o Fato chamou a atenção da CPI.
A entidade tem por hábito não explicar suas decisões. Mas dessa vez, segundo blog do Diogo Dantas, em “O Globo”, explicou. Antes tivesse ficado quieta. Alegou que os dois, Claus e Daiane, são pedidos dos clubes. Assim a sua presença mostra a boa vontade em atender os participantes da competição. Mas como um clube pode escolher o árbitro do jogo? Quais clubes pediram Raphael Claus e Daiane em seus jogos? E qual o motivo desses pedidos? São perguntas que seguem sem respostas.
As escalas sem explicações
Raphael Claus no clássico carioca serve de um ingrediente a mais para uma receita indigesta e que a CBF também nunca explicou. Trata-se da falta de critérios da entidade para tratar da escolha das escalas de arbitragem em clássicos estaduais no Campeonato Brasileiro do ano passado.
No Brasileirão de 2023, em nenhum clássico do Rio de Janeiro o árbitro foi carioca. Em nenhum clássico mineiro tivemos árbitros de Minas Gerais. Gre-Nal também não viu árbitro gaúcho. O Athlético x Coritiba, em ambos os turnos, não teve arbitragem paranaense. Isso mostra critério? Não se analisarmos os clássicos paulistas. Em seis clássicos do estado o árbitro foi de São Paulo.
Clássicos paulistas
O Palmeiras teve quatro dos seis clássicos paulistas apitados por árbitros do estado. Raphael Claus, por exemplo, apitou os dois duelos do Verdão com o São Paulo. O 2 a 0 do primeiro turno, que os tricolores reclamaram muito dele, e o histórico 5 a 0 do returno. Este sob análise da CPI. Raphael Claus apitou ainda o empate sem gols com o Santos. Este mesmo árbitro comandou outro 0 a 0, o duelo Santos x São Paulo do segundo turno.
Coube a outro árbitro paulista, Flavio Rodrigues de Souza, a missão de apitar outros dois clássicos paulistas: São Paulo 2 x 1 Corinthians e Palmeiras 1 x 2 Santos, ambos no returno. Mas o motivo de apenas clássicos paulistas terem árbitros locais ninguém entende.
Mais uma das tantas perguntas sem respostas no futebol brasileiro nos últimos anos e que a CPI do Futebol tem a missão de ajudar a esclarecer. Até lá o sofrimento fica por conta de torcedores e até mesmo de árbitros, que o diga o próprio Raphael Claus, escalado para a batalha de sua vida no domingo em um ato de covardia da entidade. Façam as suas apostas sobre o futuro da arbitragem brasileira.